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O que são os crossovers — e porque estão em todo o lado

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    Zestbooks editores
  • há 6 dias
  • 3 min de leitura

O termo crossover deixou há muito de se restringir ao universo da cultura pop para se tornar uma estratégia de convergência entre meios, géneros e públicos. No essencial, descreve qualquer projeto criativo que combine dois ou mais universos narrativos ou mediáticos, resultando num produto híbrido com apelo alargado — seja um livro que prolonga uma série televisiva, um romance que nasce de um videojogo ou uma saga literária que junta dois géneros ou que se expande em formato áudio, gráfico ou interativo.

No mercado editorial contemporâneo, os crossovers são mais do que uma moda: são uma resposta económica e estratégica à fragmentação de audiências. À medida que os leitores se tornam também espectadores, ouvintes e jogadores, os editores procuram estender as fronteiras da narrativa para além do papel ou da categoria, explorando ecossistemas transmedia e multiplicando pontos de contacto com o público.

 

Antecedentes históricos — dos tie-in novels ao universo expandido

Os crossovers têm raízes antigas. Não indo mais atrás, desde meados do século XX, o mercado editorial aprendeu a aproveitar o poder das franquias cinematográficas e televisivas através dos romances tie-in — adaptações ou expansões literárias de filmes e séries. Títulos como Star Wars: From the Adventures of Luke Skywalker (1976), lançado antes da estreia do filme, ou as sagas baseadas em Star Trek, Doctor Who e Alien, consolidaram um modelo de sinergia entre Hollywood e o mercado do livro.

Nos anos 1990, a tendência alargou-se: o sucesso de Buffy the Vampire Slayer, The X-Files e Resident Evil deu origem a linhas inteiras de tie-ins e novelizações. Esses produtos não eram apenas merchandising, mas uma forma de world-building literário — o início do conceito de “universo expandido” que hoje domina o entretenimento global.

 

A mutação contemporânea — da convergência à hibridização

A era digital e a ascensão da IA trouxeram novas camadas ao fenómeno. O crossover atual é menos uma extensão e mais uma fusão de linguagens e meios: livros que se tornam podcasts (The Sandman, da Audible), podcasts que originam livros (Serial), romances que inspiram jogos (The Witcher) e universos literários que geram séries multiplataforma (Shadow and Bone, Game of Thrones, The Expanse).

O público já não lê “apenas um livro”, mas consome narrativas distribuídas por vários canais — um modelo conhecido como storyworld publishing. A editora deixa de ser apenas guardiã do texto para se tornar curadora de experiências narrativas. Como fã incondicional de Star Wars sei bem que parte importante do “lore” se encontra na animação e nos livros.

Ao mesmo tempo, a explosão dos crossovers entre géneros — por exemplo, thrillers filosóficos, romantasy, ou ficção científica com elementos mitológicos — mostra como o leitor contemporâneo privilegia o híbrido, o imprevisível e o narrativamente denso.

 

os crossovers reduzem barreiras de entrada — atraem fãs de cinema, videojogos ou música para o livro, e vice-versa.

Os crossovers são assim capazes de reduzir barreiras de entrada — atraem fãs de cinema, videojogos ou música para o livro, e vice-versa, expandindo audiências e funciona como alavanca de visibilidade, beneficiando da força de marcas culturais pré-existentes num ecossistema saturado em luta pela nossa atenção..

 

O crossover não é apenas uma tendência estética, mas um modelo económico de sobrevivência num mercado em mutação. Representa o ponto de encontro entre o livro e os novos media — entre o passado editorial e a cultura de plataforma.

Da novelização de Star Wars aos universos multimédia da Netflix, passando pelos livros-jogo e audiolivros interativos, o caminho é claro: as histórias deixaram de pertencer a um só meio. E talvez o verdadeiro sucesso de um livro no século XXI esteja menos em vender exemplares e mais em viver em várias formas — texto, som, imagem e experiência.


 
 
 

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