top of page
Buscar

O nível da formação em edição em Portugal é um caso que merece reflexão

  • Foto do escritor: Zestbooks editores
    Zestbooks editores
  • 30 de set.
  • 2 min de leitura

Atualizado: 1 de out.



Não quero desvalorizar o que existe. Sei bem que é fruto de esforço e boa vontade de muitos colegas e académicos. Eu próprio, em 2001, mudei-me para Lisboa em busca da única formação disponível em edição. Deixei a editora onde trabalhava para investir no meu crescimento. Foi na Faculdade de Letras de Lisboa que fiz o curso de especialização e depois o mestrado em Estudos Editoriais (criado ad hoc, integrado em Linguística Portuguesa, com apoio da Universidade de Alcalá de Henares). Ali também lecionei durante 5 ou 6 anos, sempre com o objetivo de criar um corpo de profissionais capazes de compreender a complexidade deste mercado.



Mais tarde, na Booktailors, criei e lecionei, com colegas, diversos cursos e formações internas, sempre sublinhando a importância e a especificidade desta área.



Mas a verdade é dura: o mercado de formação em edição em Portugal continua pobre – talvez até mais pobre do que há 20 anos. O mestrado da Universidade Católica desapareceu, a formação da FLUL também. Apenas a Universidade de Aveiro resiste, oferecendo licenciatura e mestrado em Estudos Editoriais. Ainda assim, quem observa os planos curriculares nota a sua fraca ligação ao mercado profissional, o que limita seriamente as perspetivas de carreira de muitos estudantes.



Se olharmos para fora, o contraste é gritante. Espanha oferece formações de excelência em Barcelona, Valência, Madrid e até Vigo. O Reino Unido lidera com Oxford Brookes, UCL ou The Publishing Training Centre. Nos Países Baixos, Leiden; nos EUA, NYU, George Washington, entre outras, são referências internacionais.



Em Portugal, a edição continua a ser tratada como uma formação “dispensável”, como se gestão industrial, marketing ou comunicação fossem suficientes para dar resposta às necessidades do setor. Esquece-se que o livro, enquanto indústria cultural, tem dinâmicas próprias, ecossistemas específicos e uma complexidade que exige uma abordagem dedicada. Gerir uma editora não é gerir uma fábrica de moldes, um banco ou um jornal. Requer visão de produto cultural, competências técnicas muito particulares e uma sensibilidade que só a formação especializada pode consolidar.



Enquanto a formação em edição não for vista como prioridade, a oferta continuará escassa – e o mercado ressentir-se-á. A qualidade dos profissionais depende de um sistema que os prepare para enfrentar os desafios de uma indústria em rápida transformação.



Talvez esteja na hora de repensar a sério a forma como olhamos para o ensino da edição em Portugal.

 
 
 

Posts recentes

Ver tudo
Um texto, felizmente, inútil

Longe vai o tempo — embora ainda me lembre bem demais — em que nas mesas das grandes editoras portuguesas apenas homens se sentavam . CEO, diretores, editores, CFO… mudavam-se os cargos, mas não o gén

 
 
 

Comentários


bottom of page